quarta-feira, 30 de junho de 2010


Entrou naquela sala como quem não trazia nada além de um "Bom Dia" engasgado de ponta a ponta. E sorriu por último para quem de fato te interessava, tentando demonstrar o contrário. Mas foi na cadeira mais próxima, naquela que a colocava de frente para os olhos mais cheios do que dizer, que ela se sentou. E rabiscando em folhas brancas, para fazer algo paralelo ao papo furado, pareceu querer passar o tempo respirando aquele ar que tinha um Q de romance guardado na gaveta. Quando esticou a mão direita e a trouxe de volta para si, deixou escapar um bilhete humidecido pelo suor da ansiedade. Era um pedaço de papel nada despretencioso, cheio de mensagens implícitas, com mais entrelinhas do que escritos, com uma imensa reticência coberta por uma interrogação precedida por um "Quer ir ao cinema comigo, ou é tarde para um convite que é terreno pra tantas possibilidades". Olhou nos olhos, engoliu a saliva que já afogava a fala e, antes de ouvir um não, levantou-se com o esforço de quem carregava o mundo e virou-se, detestando a si mesma como nunca houvera sentido. Xingou zilhões de palavrões mentalmente, falou tanto para si que quase não conseguiu escutar, quando no primeiro passo para além da porta, uma voz de quem sorria lá de dentro entoou "Pra qualquer lugar é sempre tua hora". Desafogou o peito e sorriu sozinha. Mal olhou pra trás, e já sabia que ali brotava um olhar que lhe abria as portas de um mundo que morava no cantinho daquele peito aconchegante. E se amou novamente, como buscava sentir para todo dali em diante.

Texto

Um comentário:

  1. Olá Carina
    A gente não se conheçe, mas eu simpatizei muito com os dois blogs seus, tanto é que adicionei-os á uma lista de parceiros que tenho no meu blog.

    www.erexim.blogspot.com

    Confere lá, se não quiser ou preferir que eu add o outro blog seu, me avise que eu retiro ou troco.

    Continue escrevendo estes seus marvilhosos textos. PARABÉNS.
    :*

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